quarta-feira, 25 de março de 2020

Diário de Quarentena - Dia 13

25/03/2020 - 11:20 am

Ontem o "excelentíssimo senhor presidente" cometeu mais uma de suas gafes somente comprovando que tanto ele quanto sua família precisam urgentemente de um chá inteligência mínima pra parar de falar. Já não bastasse seu filho ter escrito merda e eles terem ficado em silêncio em relação a isso, parece que ele quis mostrar que o filho teve a quem puxar. Em meio a tanto caos e pessoas começando a perder a paciência em ficar em casa, o Pocket me vem questionar o porque de fechar escolas sendo que os mais afetados são os mais velhos.
Meu senhor, sim, os mais graves são os mais velhos por sua saúde debilitada, mas não significa liberar o pátio pra nação inteira ser contaminada. Nós estamos sim olhando o cenário de Itália que tem majoritariamente uma população mais velha e um clima diferente, até porque estão no inverno, mas NÓS VAMOS ENTRAR NO INVERNO TAMBÉM! Estar olhando e tomando atitudes relativas aos países em estágio avançado para a pandemia é o mais sensato a se fazer pra podermos conter o vírus. Aprender com quem está pior pra não cometermos os mesmos erros que eles infelizmente precisaram cometer pra aprender! Nós estamos em uma posição privilegiada e tu me vem com uma dessas? Por favor, se faça um favor e, você e sua família, CALEM A BOCA!

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segunda-feira, 23 de março de 2020

Diário de Quarentena - Dia 11

23/03/2020

Os dias estão começando a ficar mais sufocantes. O estresse começou a aumentar e minha cabeça ainda está pensando muito nas coisas materiais que deixei em São Bernardo. Sou muito apegado às minhas coisas materiais, e preciso me desapegar muito mais do que realmente estou. Mas não tiro da mente que meus HDs estão trancados naquele apartamento. Toda minha vida praticamente está salva naquelas memórias e estou angustiado por estarem lá sem eu poder guardar comigo. Assim também sinto com A Vespa, meu contra-baixo. Me dá um aperto enorme por não tê-la aqui comigo.
Com o passar do tempo eu fico com ainda mais medo de que as pessoas vão desesperar a procura de comida e acabarão invadindo as casas pra tomar a força. Muita gente ainda vai morrer, e essa crise mundial, caso o governo não pense em algo realmente eficaz (e eu não estou falando do presidente porque convenhamos), vai gerar muita fome por falta de emprego e falta de dinheiro e esse efeito cadeia. O modo de economizar vai mudar, e eu ainda vejo o caos se instalando. Tenho medo por minhas coisas que ficaram lá, trancadas, porém totalmente a mercê do primeiro que estourar aquela porta. Que Deus tenha misericórdia de nós e impeça qualquer tipo de barbárie, mas do modo que o povo brasileiro ainda é infantil e egoísta, eu ainda vejo levantes assim acontecendo antes que a população se revolte e comece a fazer "justiça" com as próprias mãos.
Por favor, Deus, se puder me ouvir, nos ajude nesses próximos meses a não cair em tentação. A olhar pelos outros. A nos ajudar e não a nos destruir, até que as coisas comecem a voltar ao normal. Livrai-nos de todo o mal...
Desculpe a qualquer um que esteja acompanhando essas postagens por esta aqui. É que hoje eu só precisava botar um pouco pra fora.
A falta de contato humano está começando a bater demais. Por mais que eu esteja sendo agraciado com amigas que me presenteam com seus pés durante a quarentena, o que ainda me tira sorrisos enormes, a falta de poder estar com alguém mesmo está começando a incomodar demais. Sinto falta de poder abraçar alguém e só ficar ali trocando essa energia imensa que tenho guardado. Poder dividir tudo isso, botar tudo pra fora. Amar de novo.

domingo, 22 de março de 2020

Diário de Quarentena - Dia 10

O silêncio sobre o CoronaVírus parece ser o que mais inquieta. Por um lado parece que as coisas estão bem, mas por outro o eco de tudo que o Átila disse antes de ontem faz com que tudo pareça apenas o silêncio que precede o esporro. Meu aniversário é em Abril, e parece que esse mês será a vinda do apocalipse... Eu estou incomodamente calmo...
Uma parte que me fez bastante feliz são minhas amigas me enchendo com fotos de seus pés em locais e horas aleatórias durante o dia. Em especial as Formagio e meu anjo Gabi Z. Eu amo o sorriso que elas me trazem só por surgirem/existirem.

sábado, 21 de março de 2020

Diário de quarentena - Dia 9

21 de março de 2020 - 09:30

Fazem 9 dias desde a paralização da Uninove - Campus São Bernardo do Campo por conta do Corona vírus. Ontem (20 de março de 2020) o Ministro da Saúde do então governo, Madetta, afirmou que a partir de abril o sistema de saúde entrará em colapso. Eu acho engraçado como o Brasil ainda não se tocou da realidade. Mas olhando por um lado realmente não parece realidade mesmo. Parece que ainda vou acordar amanhã, pegar um ônibus, voltar pra SBC pra assistir aula presencial com meus amigos enquanto massageio os pés da minha amiga da cadeira da frente... Mas não vai rolar.
Voltei pra minha cidade há 3 dias (17 de março), bem no primeiro pico de quarentena. O povo ainda não respeita muito, assim como não respeita ninguém praticamente. Remédios para LUPUS que supostamente - graças ao atual presidente dos EUA, Donald Trump - teriam eficácia contra o COVID-19 foram retirados das prateleiras por pessoas desesperadas por uma cura ou uma proteção. Isso acabou por fragilizar ainda mais a população que dependia desse remédio por exemplo. O Brasil ainda não tem dimensão do que está acontecendo. E nem eu tinha.
Ontem (20 de março), além da fala do Ministro da Saúde, o biólogo Átila Iamarino fez a segunda live sobre o corona e os próximos passos. A minha ficha parece ter começado a cair vendo o futuro distópico que antes só acreditava em Residente Evils, The Walking Dead e afins, tomar forma na minha frente. 1 milhão de mortos no Brasil caso não façamos nada. Caso descumpramos com o toque de recolher. E milhares caso cumpramos.
É aquele famoso 8 ou 80 que usamos para qualificar pessoas intensas de sentimento por exemplo. Ou vai ou racha, sabe?
Eu estava desesperado por estar ficando em casa o dia todo, e na minha cabeça sair um pouco na rua não faria mal. Afinal, havia pessoas fazendo o mesmo ainda. Tanto que minha felicidade ao ser chamado pelo meu pai pra ir ver uma de nossas casas de aluguel que estava em obra foi insana. Eu só queria sair de casa um pouco e fiquei extremamente feliz por dar uma volta. Mas o mundo já havia começado a mudar e eu ainda não tinha caído a ficha. Na obra, 3 senhores já de idade trabalhando pra garantir o dinheiro que os ajudaria a passar mais um pouco de tempo isolados quando tudo caísse. Somado a isso, a pergunta de um deles sobre a casa já estar alugada me fez enxergar aquela reforma como uma nova cela para uma possível família passar os próximos meses dessa pandemia. Minha ficha começava a cair. A esperança que eu tinha de semana que vem as coisas melhorarem um pouco, de uma vacina logo estar pronta. É, a realidade começou a cair. E a bomba real estava pra chegar.
Voltamos pra casa e meu pai e eu fomos assistir a Fullmetal Alchemist Brotherhood, que eu comecei a introduzir a ele, eu simplesmente amo essa série, quando ele pediu para ver o jornal. "Em abril o sistema de saúde estrará em colapso.", aquela frase ecoou na sala e eu não dei o devido peso a ela. Ainda estava na minha pequena ilusão de que tudo ficaria bem, que logo isso tudo ia acabar tipo mês que vem e meus amigos e eu estaríamos rindo dos stories no Instagram da galera fazendo qualquer tipo de coisa pra passar o tempo na quarentena. Mas então a Bê me veio de novo na cabeça. É. Há 3 semanas ela não parava de vir na minha cabeça, e quando me dei conta, estava perguntando a todos os meus amigos se eles haviam conseguido voltar pra casa.
Eu queria muito saber dela, mas me contive ao máximo que pude. Agora ainda mais não era hora disso. A live do Átila foi anunciada no YouTube e aquilo seria meu divisor de águas. Mas ainda não era a hora. A notícia do ministro ainda estava no ar. E eu conversando por insta e whasapp com todos com quem eu podia. Isa me veio a mente também, e quando dei por mim, estava pensando em como todas elas poderiam estar. Aninha, Elisa, Isa. Mas a Bê era a que mais me vinha na cabeça. Rezei. A live começou.
- "Eu preciso levar um assunto muito sério com vocês nessa live. A sua vida JÁ mudou.", entre pausas e gráficos e respiros, do modo mais didático possível, o Átila tirava meu chão.
Sentados, os 3 - minha mãe, meu pai e eu - no sofá absorvendo toda aquela realidade, eu me vi desesperado. Meu mundo acabara de cair, literalmente. Não sei o que virá no DC (Depois do Corona), mas com certeza o AC (Antes do Corona) agora já é passado. Muito do que eu vivi eu não vejo mais como pode retornar. "Roupas de grife", "Jogadores bilhonários"... Eu me sinto naquele filme, O Livro de Eli, quando ele explica que no tempo dele gastávamos sem ligar. Jogávamos fora coisas que hoje são essenciais.
Enquanto o Átila falava minha vida toda passava pela minha cabeça. Tudo o que eu havia vivido até ali parecia tão longe agora. Tudo, TUDO, vai mudar. Já começou a mudar. A economia mundial vai sofrer drasticamente. Pessoas vão morrer em todo o mundo pelo coroado e nós ainda não estávamos encarando a siuação com a seriedade real da coisa.
Assim que a live terminou, minha mãe, meu pai e eu discutimos por mais 1h inteira sobre tudo que havíamos absorvido. Eu só conseguia pensar em como tantas pessoas não iriam conseguir tratamento. Muitas irão morrer. Muitas estão na linha de frente, enfrentando o vírus como minha amiga Drielly. E não há o que fazer por enquanto. O mundo que vai surgir após esse vírus, eu quero muito conhecer, porque eu não sei o que nós ainda vamos passar. O Brasil pode mudar tudo. Podemos até mesmo sair como uma nova potência depois dessa calamidade. Mas muita gente ainda vai morrer...