quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

O Imortal - Capítulo 1

Prólogo

Tempo... Temo há tanto tempo essa palavra. Há muito que ela me assusta. Tempo. Temo o tempo. Temo a dor. Dor? Qual dor? Toda a dor?
Temo o próprio medo. Senti de tudo, vivi de tudo, e nada me adiantou. Será? É, talvez não.
Eu me lembro das coisas como se fosse ontem. Apesar de ontem fazer tanto tempo. Só não me lembro bem do nome das ruas. Sempre fui péssimo com o nome de ruas. Mas lembro-me bem do começo. Um menino saudável. Forte. Alegre. Mas o que eu mais me estranhei, foi minha capacidade em ver histórias. sempre mais histórias. Inventei histórias. Maquiei histórias. E por muito tempo tentei fazer de mim mesmo, história. Um erro grande... Será?
Eu me lembro dela também. Por muito tempo eu tentei substituíla. Espero que me desculpa por isso um dia.
Lembro-me da minha mãe. Do meu pai. Sempre fazendo influencias em mim. Ainda hoje sinto eles comigo. Mesmo depois dos dias de ausência.
Mamãe sempre me fazendo escutar músicas. "Quem canta isso filho?", "E agora, quem canta aquilo?". Hahahaha... As vezes eu colocava o nome do cantor sempre em último lugar em meus pensamentos, e ela me dizia:
- Assim você acertará apenas na última então.
Você mentiu mãe... Por dias de verdade, você mentiu...
Na minha infância, eu fui um menino um pouco levado. creio que isso é o que toda criança é. Muita energia para gastar em um corpo bastante pequeno. Ainda me lembro também do meu primeiro amor. Giovana. Linda aos meus olhos. Sómente aos meus. Mas amor de criança é ingênuo e puro. Foi uma fagulha que ainda hoje não sei se queimou até se extinguir, ou queima, bem lá no fundo do meu coração. Escondida. Esquecida...
Esquecer...
Nunca fui muito bom com nomes de ruas, verdade. Mas esquecer era o meu maior medo. Ser esquecido. Foi assim a primeira vez. Ela tocou a minha porta. Uma moça. Eu nunca cheguei a ver o rosto dela. Sómente a voz, que minha mãe insistia em fazer decorar nas suas músicas. E essa moça bateu, pedindo nada mais do que um pacote de bolachas pois tinha fome. E seguindo aquilo que fui ensinado, menti.
"Hoje eu não tenho moça, me desculpe."
Nunca me perdoei por isso. Mesmo com minha mãe insistindo em dizer que foi o certo, pois não sabiamos se ela poderia trocar por alguma droga ou algo do tipo. Ainda assim eu não achava correto. Mesmo nunca vendo o rosto dela, eu aprendi a enchergar na voz. E ela tinha uma voz triste. Nunca me envergonhei por chorar como agora. E como chorei assim que repus o interfone no gancho. Lembro-me como se fosse ontem. Chorei, chorei muito.
Me pergunto o que ela teria feito depois daquele dia. Uma esquecida no mundo. Sempre imaginei que a morte era a pior coisa da vida. Bobo fui. Ser esquecido era sim, um castigo muito pior...

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