O céu escureceu outra vez. O que está acontecendo? Mas ninguém me da uma resposta. Pois ninguém se importa mais. O vento começa a se tornar mais forte. Me abraço sobre a nossa árvore, tentando sentir seu abraço aconchegante, que há muito me confortava nos momentos de medo. Mas onde está você agora?
Então um raio cai, nas ruínas do meu antigo castelo, e uma estranha luz toma conta do meu corpo. Abro os olhos lentamente e me vejo em casa. Mas me sinto estranha. É como se eu já estivesse ali. Um dejá vú? Não. Era algo diferente. Podia sentir.
- Amanda, desça filha! - olho para trás e encaro minha mãe. Não consigo dizer uma palavra sequer. Ela me encara, com uma expressão de que conhece a pessoa que está parada à sua frente, mas ao mesmo tempo, é um total desconhecido. Eu realmente já vivi aquilo. Mamãe estava mais jovem. Talvez uns sete, nove anos - Pois não?
Não sei responder. Então ouço passos na escada às minhas costas, e me vejo descer a escadaria. Minha pequena eu, feliz, inocente, ainda prestes a passar por tudo aquilo pelo que passei. Era como estar de frente à um espelho.
- Mãe, eu... - me encaro como minha mãe o fez. Sinto que conheço a pessoa parada à minha frente, e ao mesmo tempo, é uma completa desconhecida - Quem é você?
- Amanda, o Paulo já está na porta...
- Espere. - consegui falar, já chorando. Aproximei de minha versão mais jovem e sorri. Nunca havia notado o quão linda eu era. Como meus cabelos desenhavam perfeitamente meu rosto. Agora eu compreendia o que ele vivia me dizendo. Me pergunto se ainda carrego essas marcas de ontem. Será que ainda tenho esse mesmo rosto desenhado. Esses cabelos vivos? Uma inocência de pré-adolescente. Por que foi que abri mão de tudo isso mesmo? Já não me recordo mais.
- Eu conheço você? - ela me pergunta. Sinto certo calor em meus ossos. O que você faria se pudesse se ver mais jovem outra vez. O que diria para si mesmo? Lógico, quero corrigir todos os erros que cometi, agora que tenho essa oportunidade. Eu estava ali, bem em minha frente, prestes a viver tudo outra vez. Era só uma questão de...
- Amanda, o Paulo está esperando - ...mamãe. Sempre com sua capacidade de dizer algo na hora certa. Sinto meu sorriso morrendo em meu rosto. "Eu te verei em breve". Seria desse momento que ele estava falando? Será que ele sabia que eu voltaria até esse momento? Eu perdi minha coragem, algo que realmente não deveria ter perdido. Mas essas são minhas marcas de ontem. Os erros que cometi, são as marcas que carrego. E outra vez quase que me deixo penetrar em meu castelo outra vez. Que confiança fora essa de que se eu falasse à mim mesma sobre o que aconteceria, tudo daria certo? Mil situações diferentes eu penso, e sempre é a mil e um que ocorre. Aquela que sequer passou em minha mente. Como pude me esquecer disso? Ele mesmo quem me ensinara isso.
Me encaro, ainda chorando. Sei que terei de me deixar cometer os erros que cometi. De outra forma, como irei aprender? Mas também, como eu pude ser tão idiota ao ponto de...
"Ódio, Amanda, não leva ninguém à lugar nenhum." Essa voz... ecoando por todo o cómodo em que estamos. Sinto meu coração apertar e encaro minha versão mais jovem, enquanto a voz ainda fala. "Odiar é tão fácil. É como jogar um fósforo aceso em uma pilha de folhas secas, banhadas de álcool. Agora, olhar nos olhos e perdoar, é muito mais difícil. É como jogar remédio em uma ferida exposta, sabendo que vai arder. Queremos evitar todo tipo de dor, e assim nos esquecemos que logo ela acaba, deixando uma cicatriz. Nossas Marcas de Ontem. O que você está pronta para fazer, Amanda?", sinto meu coração apertar. A voz dele some no ar, me deixando entre minha mãe e eu outra vez. Choro um pouco mais forte, abaixando o rosto.
- Moça, você está bem? - ergo o rosto mais uma vez e me vejo preocupada. Quando foi que perdi toda essa ternura? Essa paz?
"A pergunta não é o que você fez. Mas sim, o que você fará em relação à isso."
E mais uma vez meus ossos queimam. Mas agora eu sei o que devo fazer. Sinto meu sorriso brotar mais uma vez em meu rosto e abraço minha eu mais nova.
- Eu te perdoo - sinto algo estranho. Um alivio tão grande, que parece impossível de se conter. E algo que se parece muito com felicidade. Fecho os olhos e me deixo levar um pouco naquele pequeno gesto. É incrível como as pequenas coisas são as que mais significam. Abro os olhos e me vejo deitada à sombra da árvore outra vez. Meu castelo desmoronando ao horizonte. Apenas alguns tijolos agora. O céu estava outra vez azul claro, com algumas nuvens. Teria eu mesmo voltado no tempo, ou talvez apenas...
- Algumas coisas nos perseguem. Erros que insistimos em cometer - aquela voz, não era mais como um fantasma. Eu podia sentir sua respiração, milímetros de mim. Olho assustada para o lado e me deparo com aquele mesmo sorriso de antes. Talvez um pouco mais bonito do que me lembrava -, mas ninguém vive de passado. Pois assim, como poderia ter um futuro? - não consigo responder. maus olhos ainda fixos naquele sorriso que uma vez foi embora pelas escolhas que eu mesma tomei. Por quê? Por que ele voltaria? O que eu fiz para merecê-lo outra vez? E como se ele pudesse ler por entre meus olhos, todas as perguntas que eu estava me fazendo, escuto sua resposta - Você se perdoou. (Sierepilef - Amanda's Book)
- "Você perdeu a sua confiança. Mas você não deveria tê-la perdido. porém, não se preocupe com isso, pois eu te verei em breve." (Sierepilef - Inspirado em See you soon - Coldplay)
- "As Marcas de Ontem, são as cicatrizes das escolhas que fizemos. São nossas provas de que vivemos, erramos e aprendemos. As Marcas de Ontem, são As Cicatrizes de Amanhã."(Sierepilef)
- "De 1000 situações possíveis que você pensar, será sempre a 1001, aquela que nunca sequer passou em sua mente, que irá ocorrer."(Sierepilef)
- "Odiar é tão fácil. É como jogar um fósforo aceso em uma filha de folhas secas banhadas em álcool. Mas perdoar... Perdoar é tão difícil quanto aplicar um remédio em uma ferida exposta, sabendo a dor que sentirá. Mas o que esquecemos, é que logo a dor passa, e apenas a marca do que um dia foi uma feria, toma seu lugar." (Sierepilef)
Nenhum comentário:
Postar um comentário